terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Crônica de uma esperança ressuscitada


Há 20 anos,com 25 quilos a mais e vida sedentária fiz um teste ergométrico a pedido do meu médico
.Não fiquei nem cinco minutos e pedi help!Não me lembro de mais nada,apenas que não con-
seguira.Recentemente meu cardiologista,a quem muito respeito,me pediu pela terceira vez e não pude
negar.Faço hidroginástica há dez anos e  caminhadas leves ,de meia hora,toda manhã.Durante  uma
semana ,a conselho médico,passei minha dose diária de lexotan 0;75 para 1,5,pois tenho histórico
de ansiedade: dentista,médico,notícias ruins-tudo isso faz minha pressão disparar.Chamei minha irmã
para me acompanhar,fiz minha sessão semanal de acupuntura( pressão aferida: 12 por 7),tomei minha
medicação da tarde,acrescida do lexotan a mais ....E lá fomos nós,debaixo de chuva,colocando os
assuntos em dia.Às 14,30 h uma mocinha simpática veio me buscar e eu lhe disse que me sentia tonta.
Cumprimentei o médico ( uns 30 anos talvez),subi na esteira e fui contando minha história.Nem che-
guie na metade dela e já levei bronca: lexotan? Sou contra essa medicação que provoca Alzeimer!
AH! Lembro-me de ter retrucado que eu o tomava com aval do meu cardiologista.Depois minha
pressão foi aferida: 18 por 10.E fui simplesmente dispensada:não dá pra fazer o exame( isso eu já
sabia).Conformadas voltamos pra casa: dois quarteirões de subida,descansei um pouco e aferi mi-
nha pressão: 14 por 9.Alívio.De tardinha liguei pro meu médico,lhe contei o ocorrido e ficamos de
conversar quando eu lhe levasse os resultados dos exames de sangue,todos normais,graças a Deus.
Hoje,durante minha hidroginástica,contei para minha professora.E ela me contou sua experiência de
meses atrás: aos 36 anos teve uma ameaça de derrame.Passado o susto foi fazer os exames pedi-
dos,inclusive o ergométrico.Foi atendida por uma médica,que gentilmente a deitou na maca,aferiu
sua pressão e conversou com ela sobre os motivos que a levara ali.Depois a colocou na esteira,sem-
pre perguntando como estava se sentindo.Com quase 24 horas de atraso minha indignação veio
à tona: eu estava me sentindo culpada  por não ter conseguido dominar minha ansiedade,mesmo
medicada.Nem por um instante questionei a atitude do médico que me dispensou com tanta frieza,
apesar do consultório vazio.Não afirmo que o resultado poderia ter sido positivo com a outra
médica.Questiono,agora que estou mais calma,o envolvimento humano,tão propagado ultimamente,
tão necessário na relação médico-paciente.Não creio que vou me submeter a todo esse estresse
de novo mas....se alguém quiser o nome dessa médica ,o darei com alegria.Encontrei durante minha
vida médicos dedicados.Humanizados.E não vou desistir de acreditar: agradeço a essa médica por
minha esperança ressuscitada.

Maria Neusa em fevereiro de 2013

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Mini-conto: Nada de exibição!

 

  
Nada de exibição

"Ele é um sujeito tímido.A vida o ensinou a não exibir o que lhe é mais caro."
Ela está lendo "as aventuras de PI" de Yann Martel e se reconheceu nessa
frase.Então é por isso que o sentimento motor da sua vida fica escondido
no lugar mais inacessível,dentro dela: a amorosidade.Disfarçadamente Ela
a vai distribuindo aos objetos,aos animais,às pessoas.E a si mesma,sempre.

Maria Neusa em fevereiro de 2013

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Mini-conto: A chaleira


Ela parou em frente à lojinha ao lado do hotel onde o filho mais velho
ficara durante os três dias em que prestara vestibular.Retornando à cidade,
onde nascera,Ela quis levar aquela bonita,simples e útil chaleira.E a conservou
durante doze anos em cima de seu fogão,sempre prestativa.Toda vez que
a colocava no fogo,lembrava-se do filho ainda adolescente,sua coragem e
auto-suficiência.Hoje o  inevitável aconteceu: um esbarrão e lá se foi a tão
amada chaleira pro chão.Quebrou-se em vários pedaços e Ela não teve
outro recurso: juntou-os e os colocou no lixo.O coração a princípio doeu.
Mas ,como sempre faz,Ela procurou pelo menos um ponto positivo e achou
vários:doze anos é tempo suficiente para aprisionar lembranças.Libertá-las
é trazê-las para dentro do coração e ficar atenta ao filho,agora adulto,norinha e netos,
na construção de novos momentos amorosos e inesquecíveis.

Maria  Neusa em fevereiro de 2013