segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um minuto de silêncio,por favor!


"De uma coisa posso me orgulhar,caro neto:poucos chegam,como eu,a uma idade tão avançada,àquela idade que as pessoas costumam chamar de provecta.Mais: poucos mantêm tamanha lucidez.Não estou falando só em raciocinar,em pensar;estou falando em lembrar.Coisa importante,lembrar."
- Moacyr Scliar em "Eu vos abraço,milhões -

-Sou leitora assídua desse escritor brasileiro,desde quando o descobri,há anos.Ontem,na tv,a notícia de seu falecimento me pegou pelos cabelos,me sacudiu e me fez chorar.Fiz minha oração: descanse em paz,descanse na luz e no amor de Deus.
- Hoje cedo abro minha revista favorita e leio esse trecho de um livro dele ,que ainda não conheço.
 Sincronicidade???!!!!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Eu pedi autorização!!!!

O jeito dela de ser


Muitas vezes ela nem consegue conversar. Se vê completamente bloqueada. Tenta colocar suas idéias, mas suas idéias batem em uma muralha e voltam até ela, sem nenhuma ressonância. É como se encontrassem pela frente um muro de pedras sem nenhuma fenda. Então ela desiste e fica calada. Decidiu, já há algum tempo, que não vale a pena travar batalhas verbais para mostrar que está certa. E nem tem certeza disso, certeza de estar certa ou errada. O que também não tem nenhuma importância. O que importaria mesmo seria pensar e agir com coerência, mas nem isso é sempre possível, pois muitas vezes se reserva o direito de ser incoerente. Afinal mudar de idéia não é para qualquer pessoa – só as de mente aberta, pronta para o novo, podem fazer isso.



Porque está ficando difícil conversar, ela escreve. Suas idéias estão ali, todas no papel. É mas fácil lidar com a palavra escrita do que com a falada, ela pensa. Quando escreve, cada palavra sai letra por letra, pensada, refletida. Mesmo quando escreve bobagens, porque ela também faz isso, são bobagens pensadas, refletidas.


Ela tem idéias, mas não as deixa escaparem a torto e a direito. Não falando. Mas quando escreve, ela não se preocupa. Falando, talvez não fosse entendida, talvez tivesse que explicar. Ela não gosta de explicações. Quando escreve, deixa a cargo do leitor entender como quiser. Cada leitor entende com sua própria mente e interpreta e dá o sentido que quer. Nesses casos não é ela quem é julgada, mas o próprio leitor.




Não gosta de conversar sobre política e nem de escrever. Política não tem lógica nem poesia. Pelo menos a política do dia a dia, é impossível analisá-la. Aprendeu uma vez e não desaprendeu: a política é como a nuvem, muda a todo instante, em um piscar de olhos. Mas gosta da Política, entendida como a arte de governar os povos. Para o bem dos povos. Por isso estudou História e Filosofia e escolheu ganhar o pão de cada dia contando histórias. O passado não mente quando as fontes são confiáveis. Basta analisar os fatos e verificar o efeito na vida presente.

Também não gosta de discutir Religião. É assunto proibido. Tanto para falar de religião quanto da falta dela. As pessoas geralmente são radicais a esse respeito. Ou pensa como eu ou pensa errado. Acha que a maioria das pessoas pensa errado, mas não põe a mão no fogo pelo seu jeito de pensar. É apenas o seu jeito. Cada pessoa tem o seu.

Gosta de pensar coisas que nem passa pela cabeça da maioria das pessoas. Tem gente que acha que ela é muito inteligente só porque não compreende a sua maneira de pensar. Tem gente que tem certeza de que ela é muito esquisita. Estranha mesmo. Ela não se importa com nenhum desses pensares. Aprendeu, depois de muita busca que é semelhante em muitas coisas às outras pessoas. Mas aprendeu também que é única: um indivíduo, que não precisa e nem quer ser igual a ninguém. Não busca se transformar em uma imagem preestabelecida de gente ideal. Busca encontrar sua imagem verdadeira, aquela que se viu escondida pelos acréscimos da vida em sociedade. Às vezes, quando escreve, se sente uma escultora lapidando o bloco de pedra de onde emergirá sua própria imagem.


Esse é o jeito dela de Ser. Não quer muito nem pouco, só o tanto certo para Ser. Porque pensa que Ser é mais importante que Ter. Ser é mais que existir. Ser é a Humanidade de Deus.



-  Maria Olímpia Alves de Melo-


-Maria Olímpia é minha amiga lavrense.Há anos venho acompanhando seu crescimento como escritora e como ser humano( como todos nós : me conheço,reflito,amadureço,cresço...).Quero dividir com vocês esse texto( ela me autorizou).A foto é uma homenagem: Merô,você é minha Clarice!

























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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Eu recomendo e com aplausos - 1 -


Um,Dois,Três


         Eu queria um dia fazer uma crônica como uma valsa antiga.Que rodopiasse pela página como,digamos,um velho comendador de fraque e sua jovem amiga.Cheia de rimas como quimera e primavera.Com passos e compassos,ah quem me dera.Talco nos decotes,virgens suspirosas e uma sugestão de intriga.
         Os parágrafos seriam verso e figurações.No meio,um lustre,na tuba um gordo e em cada peito mil palpitações.Os namorados trocariam olhares.As tias e os envergonhados nos seus lugares.E de repente uma frase perderia o fio,soltando sílabas por todos os salões.
          A segunda parte me daria um  nó.
          Os pares param,o maestro espera e ninguém tem dó.
          Dou ré,vou lá,já não caibo em mi.
          E então decreto - vá fá - é cada um por si!
          Um,dois,três.
          Um,dois,três.
          A minha orquestra seria toda de professores.Um de desenho,três de latim,cinco de português e todos amadores. O baterista cheiraria coca. O contrabaixista não parece o Loca? E o gordo da tuba um duque da Bavária nos seus últimos estertores.
          Um cadete rouba o amor da filha de um magnata.Pescoço de alabastro,boca de rubi e olhos de uma gata.O namorado,despeitado,urde sua vingança.É quase meia-noite e segue a contradança.O pai da moça dorme nos seus sete queixos e sonha com uma negociata.
          No avarandado branco,onde vão ver a Lua
          A moça e o cadete,que a imagina nua,
          Beijam-se perdidamente a três por quatro.
          E o segundo traído sou eu,que não encontro rima para "quatro."
          Um,dois,três.
          Um,dois,três.
          Um violinista,de improviso,olha o relógio e perde um bemol.Faltam poucas linhas para acabar meu espaço e surgir o sol.Lá fora o par apaixonado.De tanto amor nem olha para o lado.Não vê o despeitado que se aproxima,quieto e encurvado como um caracol.
           Eu mesmo me concedi esta valsa e, portanto,tenho a decisão.Que arma usará o traído na sua vil ação? Uma adaga,fina e reluzente? Combina mais com o requintado ambiente.Mas se errar o passo e o alvo o vilão e, abrindo um filão,conspurcar o alvo chão?
           Um tiro na nuca é mais ligeiro.
           Mais prático,moderno e certeiro.
           Mas, meu Deus,o que é que eu estou fazendo?
           Comecei com uma singela valsa e já tem gente morrendo!
           Um,dois,três.
           Um,dois,três.
           Eu só queria fazer uma crônica como uma valsa antiga. Que rodopiasse pela página como um comendador cansado e sua compreensiva amiga.Cheia de rimas sem compromisso aparente.Nem com couro,nem com prata,nem com a crise do Ocidente.Decotes bocejando.Virgens sonolentas e nem uma sugestão de briga.
           Um,dois, três.
           Etc.

Luís Fernando Veríssimo in Comédias para se ler na Escola

 
_ Meus pensamentos precisam aprender a valsar...assim viverei com mais leveza.


 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Procura


                " Aqui o tempo não passa,o tempo senta e descansa."
                                 - Roseana Murray -  

   Procuro dentro de mim esse espaço sagrado.Quero ouvir apenas o pulsar da Vida.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Inexorável

    .              " Vá,gaste sua vida como bem entender.
                  A vida não é poupança,que quanto mais se guarda,mais se tem.
                  Vá,gaste a sua vida.Ela inexoravelmente terá um fim.
                  Vá,gaste tudo e não guarde nada.
                  Quanto mais se vive,mais Vida se tem."

                         - Tereza Zambrini -
                       ( Livro da Tribo - 2011 )
              
    - Eu gasto.Às vezes parece que já gastei tudo...que estou devendo...
                                 
                          

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Óbvio !!!????!


          Li numa revista : " além das rugas,a maturidade traz sabedoria e tolerância."
          Eu acrescento: se você se cuidar desde sempre,terá saúde e alegria de viver.
          E às vezes,será presenteada com um milagre: o amor incondicional dos netos.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Quase sempre

 - Em português, Compilar significa reunir obras literárias, documentos, escritos de vários autores, entre outros, compondo uma obra com esse material.
  
 
   - Obra composta exclusivamente de extratos de outras.

 - Ação ou efeito de compliar: reunir,coligir textos de autores diversos.


- Ontem li: no seu blog( meu) você compila.Levei um susto! Fui procurar significados desse verbo e respirei aliviada.Sim, é isso que faço aqui,quase sempre.Às vezes escrevo mini contos.Gosto da forma sintética,gosto de dizer pouco e mais nas entrelinhas.Gosto de ler.Sou professora de literatura e redação.Apesar de aposentada há 17 anos,continuo mestra.Consigo fazer os alunos acreditarem que são capazes  e liberto neles a beleza das palavras geradas.Às vezes um desabafo,quase sempre um DOM.
Pronto!Esclarecido por que estou aqui,neste blog: compilar e compartilhar.
Não mudo o nome deste blog para COMPILADORA porque ADORO VOAR!!!
  

domingo, 20 de fevereiro de 2011

" Um dia "


"  1- sujar o pé de areia pra depois lavar na água

                 2- esperar o vaga-lume piscar outra vez           

                3- ouvir a onda mais distante por trás da mais próxima

                4- não esperar nada acontecer

                5- se chover,tomar chuva

                6- caminhar

                7- sentir o sabor do que comer

                8- ser gentil com qualquer pessoa

                9- barbear-se no final da tarde

                10 - ao se deitar pra dormir,dormir."




                     -Arnaldo Antunes -    

                        

- Eu acrescento: aceitar alegria e dor,na mesma medida.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Um vão



  " Por que toda mudança é tão difícil?Por que temos tanta dificuldade em nos despedir das coisas,mesmo sabendo que tudo o que é vivo se transforma? "A única realidade é a mudança" já dizia o poeta. E em toda mudança perdemos algo e ganhamos "outro algo". Entre todo  o fim e o novo começo,existe um vão. E é nesse espaço que tudo se digere e se recria."

- Regina Garbellini -


- Um vão,que me acolhe em seu colo.Me dá o tempo que preciso.Quando estou pronta,voo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ACABA? !


             "...às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido;mas pode acabar com doçura e esperança;uma palavra,muda ou articulada,e acaba o  amor;na verdade,o álcool;de manhã,de tarde,de noite;na floração excessiva da primavera;no abuso do verão;na dissonância do outono;no conforto do inverno;por qualquer motivo o amor acaba;para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba."

-Paulo Mendes Campos por Adriana Falcão in Entre aspas- revista  Lola,fevereiro de 2011 -

- Acabar e recomeçar: gosto dos opostos.    

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O não ser


             "O homem quer ser peixe e pássaro,
               a serpente quisera ter asas,
               o cachorro é um leão desorientado,
               o engenheiro quer ser poeta,
               a mosca estuda para andorinha,
               o poeta trata de imitar a mosca...."
 
-Ode ao gato - Pablo Neruda

- Enquanto isso o Tempo,senhor de todas as coisas,passa célere....

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Arriscar-se


               "Pelo menos uma vez na vida,
                arrisque-se em uma ponte perigosa."
                   _ provérbio japonês -

       - Às vezes,precisamos desse atravessar,por dentro.De olhos bem abertos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Constatação


  " Gosto quando dizem
        que sou esquisita.                      
      Isso valoriza
      meu acabamento
      alternativo."
                           -Lou Bertoni

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Conversa com a Pequena Abelha


Daniel escreve no Jornal Mastercabo e eu o leio,sempre.Desta vez ele tocou fundo na minha inteligência e no meu coração.E me deixou uma pergunta: até quando???

                  Conversa com a Pequena Abelha


         O livro "Pequena  Abelha",do escritor inglês Chris Cleave,conta a história de uma adolescente nigeriana que se encontra presa na Inglaterra por ser imigrante ilegal.Junto a outras mulheres na mesma situação,consegue sair da cadeia para um destino perigoso: viver na ilegalidade,sem direitos ou documentos num país que não é seu.A alternativa possível seria a deportação,mas nenhuma delas quer isso.Nenhuma delas quer voltar para o terceiro mundo e seus dramas cotidianos.Preferem tentar esse arremedo de vida feliz e tranquila numa "nação de verdade".Pequena Abelha, a menina nigeriana, tem como mote um ditado do seu povo,e com ele leva sua vida dura e sofrida adiante: "se seu rosto está inchado das graves surras da vida,sorria e finja ser um homem gordo".Fiquei com vontade de escrever para ela ,para desabafar:
          Ah,Abelhinha,como temos fingido cá no Brasil...
          Aqui,todo ano,nossa triste novela se repete,como se valesse a pena ver de novo:enchentes,chuvas,soterramentos e muita ,muita gente morta.Nessa hora, a máscara do homem gordo e feliz cai, e nosso semblante de bobos tristes aparece.Envergonhados,chorosos,nos resta a caridade:doamos sensibilizados, a água,o pão e as nossas roupas para os irmãos infelizes que foram prejudicados.Num ano,vão para Angra dos Reis,no outro para o Sul de Minas Gerais,para Goiás Velho,para o interior de São Paulo e outros tristes destinos.De fato não temos aqui terremotos,vulcões e tornados,mas há aqui um descaso e uma apatia política que destrói mais do que qualquer desastre natural.Nossos tsunamis têm nome,número e sigla partidária.Entendo ,Abelhinha,a razão pela qual você não quer voltar para seu país.Lá,como aqui,não te tratam como gente.Não te respeitam ou pior: não te enxergam.Aqui como aí,também temos um mote,cantado geralmente de braços abertos e com um sorriso estampado no rosto:"deixa a vida me levar,vida leva eu."E assim,livres de qualquer responsabilidade ou obrigação,vamos vivendo ou morrendo.Este ano nossas doações seguiram rumo as serras do Rio de Janeiro.Mandei junto com a trouxinha de roupas uma promessa: daqui pra frente não voto mais em ninguém que não se responsabilize por estas tragédias.Político nenhum  que não retire os moradores dessas regiões de risco e os instalem em lugares apropriados receberão meu voto.Aliás,nenhum dos que passaram como governantes ou mandatários de qualquer cargo por onde que tenham acontecido essas tragédias contarão com meu apoio.Espero que outros também façam assim quando as tragédias acontecerem aqui na minha região.Ou quando acontecerem mortes por balas perdidas em bairros dominados por traficantes,ou acidentes fatais em estradas esburacadas ou quando morrerem pessoas em filas de espera de hospitais públicos.
         Vem aí o carnaval,Pequena Abelha, a festa mais linda do mundo e vestirei minha máscara para "deixar a vida me levar" mais uma vez.Mas não me esquecerei da minha promessa. Porque aqui no meu país nos acostumamos a viver numa confusão de emoções e sentimentos que há sempre uma ponta de tristeza nas nossas alegrias...vou me agarrar a ela para não esquecer do que aconteceu.É tudo que posso fazer por tanta gente que se foi.

- Daniel Bicalho in Cordel -janeiro  de 2011-

domingo, 13 de fevereiro de 2011

9 - A espera



     As janelas,entreabertas.Cortinas brancas esvoaçantes.
     Do outro lado da sala,um sofá azul-marinho.
     Faltavam as almofadas coloridas,que jaziam estraçalhadas.
     No chão.Esperando.

8 - O chamado


    Era  madrugada e chovia.    Ele andava e procurava.Atento.             
    A porta azul estava semi-aberta.Convidativa.
     Ele entrou.E sorrindo,estendeu as mãos vazias.
                      

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Paulo Leminsk - 2 -


Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

         Paulo Leminsk

-Tem que ter por quê???Sempre me perguntei.



               

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Paulo Leminsk - 1 -


INCENSO FOSSE MÚSICA

isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além.
          Paulo Leminsk


- Música é incenso.
Quero ser além.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Precisamos fazer revoluções



                    "  Quem estudou no Loyola conheceu Antônio,o vendedor de balas da porta da escola.Quem não fez conta com ele para satisfazer os doces caprichos dos seus filhos?!
                      Mas chegou uma hora em que foi preciso tomar providência.Apesar de muito pequenos,chegamos à conclusão de que o ideal seria estabelecer uma mesadinha ( do tamanho deles),para que tivessem limite com relação " às querências" e, ao   mesmo tempo, para que aprendessem a administrar esse rico dinheirinho.Passamos,então,a lição. E combinamos entre nós, marido e mulher,fazer valer a nova lei.De preferência,sem emenda.Volta  atrás,jamais!
                     Na primeira incursão pelas lojas ( lembro-me bem que foi a  antiga loja de brinquedos Bakana,na Contorno,em frente à Igreja Santo Antônio),Gabriel me pediu para comprar um pacote de figurinhas.Foi necessário relembrar-lhe o combinado.Afinal, tinha sido instituído há pouco tempo:balas,picolés e figurinhas seriam comprados com o dinheiro da mesada.  Então, disse-lhe que emprestaria o dinheiro,mas que ele deveria me pagar depois,já que naquele momento ele não estava prevenido com os cobres na carteira. Esse assunto foi tão discutido em casa que Juliano,meu filho mais velho,quando as parcas moedas da carteira iam findando,dizia que estava ficando "cobre",em vez de pobre.
                   À noite, em casa, já recolhida em meus aposentos,entrou no meu quarto aqule toco de gente mais lindo do mundo.De mãozinha fechada em concha,ele depositou sobre minha mão uma notinha de dinheiro ( das mais amassadas).Na verdade,eu já nem me lembrava da dívida.No entanto,lembro o tanto que doeu aceitar o pagamento.E  naquele gesto,tive a certeza de quanto doía educar.
 ( ...)
                   Imagino que,na cidade de muitos homens de nossa pátria ( tão sem mãe) não havia loja Bakana,nem eles tiveram mesadinha para aprender a lidar com o que era apenas deles,nem bico para lidar com a dor da perda,nem deixaram o  restinho no prato para aprender que existem normas e regras sociais a serem cumpridas.Muito menos existiu por lá um bondoso Antônio,vendedor de balas que,com sua caderneta,creditava a todos nós uma palavra tão em desuso: confiança.
                  Precisamos fazer revoluções.A primeira,certamente,será interna."

 _ Mary Figueiredo Arantes in As preciosas coisas banais.

_ Há anos aprecio e compro as" bijus"  de Mary Design.Recentemente comprei o livro de crônicas escrito por essa artista mineira.Me encantei com todas as suas histórias e com a facilidade com que ela lida com as palavras.Da mesma maneira que lida com pedras,cordas,criando Arte.

           

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Livre arbítrio



     "Os tristes dizem que os ventos gemem,
       os alegres acham que cantam"
       
                     Z. Piatigorsky

  - Reflexão:o  gemer e o cantar nos fazem humanos.



        

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Walt Whitman - 2 -



Uma clara meia-noite

      Esta é a tua hora,Oh Alma,teu voo livre
      Para o espaço sem palavras,
      Longe dos livros,longe da arte,
      O dia extinto,a lição terminada,
      E tu plenamente emergindo,silenciosa,
      Observando,ponderando
      Sobre teus temas diletos:
      Noite,sono,morte e as estrelas.

      -" Whitman parece nos dizer: somos tão despojados,tão perdidos neste vasto mundo,tão amontoados e tão sós,que cada objeto de felicidade é um presente,uma surpresa e um milagre."
( Folhas de relva- texto de José Francisco Botelho in Revista Vida Simples de fevereiro de 2011)

-  A poesia é meu presente diário.
   A poesia me agarra e me surpreende.
   A poesia presentifica o milagre que é viver.





segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Walt Whitman -1 -


             " Eu celebro a mim mesmo
                       e o que eu assumo você irá assumir
                       pois cada átomo que pertence a mim
                       pertence a você.
                       Vagabundeio com minha alma...
                        observando uma lâmina de grama no verão."
      

            -" Walt Witman é um indecoroso messias da literatura,que nos convida a participar de sua vadiagem cósmica e de seu auto-erotismo metafísico.O século 20 celebrou-o como inventor do verso livre,mas para o crítico Harold Bloom,o brilhantismo desse poeta foi resgatar o potencial xamãnico da literatura.Em algumas sociedades arcaicas,o xamã é uma figura que oscila entre diversos mundos e que, por isso mesmo,é capaz de falar com clareza sobre todos eles.
            Assim foi Witman.Celebrou a simesmo como emblema do universo - uma celebração que,para ganhar  a necessária força e gigantismo,também abarcou a dor,a baixeza, a derrota,conforme demonstra sua curta e inesquecível linha:
            "Eu sou o homem.Eu sofri.Eu estava lá."

( in Folhas da relva - texto de José Francisco Botelho- Revista Vida Simples - fevereiro de 2011 )

-Li e gostei....vou continuar amanhã.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Preocupação

"Este blog contém algumas imagens que foram coletadas na internet, aparentemente sem nenhuma restrição ao uso público. Caso você saiba de alguma aqui publicada, sem identificação de autoria, ou indevidamente, peço-lhe que me informe para dar os devidos créditos, ou excluí-la."

- Copiei de um blog que conheci ontem.Há muito me preocupava com essa questão: copiar ou não imagens da net.Faço minhas essas palavras.
                    
           

Um mote e cinco variações


                   Mote: " A tarde de sua ausência" 
                               ( Carlos Heitor Cony)

                   1- A temperatura caíra drasticamente naquela tarde de junho.Na sala gelada,Ela abraçava o livro,transfigurada de dor.

                   2- O cd antigo tocava e Ela o ouvia,chorando silenciosamente.Não encontrava a resposta.
                        Por quê?

                   3- " Se todos fossem no mundo iguais a você"...Pulso cortado.A dor latejava na vida que se esvaía.
  
                   4- Ela cantava.Olhos fechados,coração feliz.Sem perceber que a pequena trouxa de panos,que embalava,estava vazia.

                   5- Ela estava ali há horas,sentada na cadeira de balanço.Tomara banho,vestira seu mais novo vestido,passara seu melhor perfume.Ela sabia que ,até o final da tarde, passos alegres subiriam as escadas e risadas infantis a abraçariam.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Atemporal

"Fé cega,faca amolada"



A banda uberlandense Giralua canta Nascimento.
O teatro fica no centro da cidade: moderno e aconchegante.
Chegamos às vinte horas em ponto.Yuri,meu netinho de 2 anos e 4 meses,ia estreiar na noite,assistindo ao show em que seu pai,Luís Gustavo,é o cantor.Subiu e desceu dezenas de vezes a rampa,sob os cuidados da avó Júlia. Quando ouvimos o segundo sinal,a mãe o chamou e ele se sentou entre ela e a mãe do cantor,"Vó Maria Deusa."
Luzes fortes se acenderam no palco,a primeira música abriu caminho e fez as pessoas cantarem.As palmas explodiram e Yuri virava para trás e dizia: "tem mais uma".Na metade do show começou a cantar partes das músicas,afinal assistira  a todos os ensaios,que se realizavam na sala de sua casa.Uma hora com músicas de Milton Nascimento - décadas de 60 e 70 - e a platéia pedia mais.
Há cinco anos insistindo neste repertório tão rico,a banda,formada de jovens entre 25 a 28 anos,e dando voz,com criatividade e competência,ao grande compositor e interprete da MPB,agora recebia do público o reconhecimento que merecia.
Eu,quieta e emocionada,cantava junto;"vai ser,vai ser,vai ter que ser,vai ser faca amolada.No brilho da paixão e fé,faca amolada."
Trabalho,fé,faca amolada  rasgando o destino,insistindo em transformar  sonhos em realidade.


Maria Neusa,outubro de 2009
              

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Desapegar-me


                 "Aquilo que você guarda e o que joga fora,assim como o que compra ou deixa de comprar,é um espelho que reflete o que você sente e pensa.( ...) Colocamos etiquetas emocionais nos objetos que nos circundam.Por isso é tão difícil descartá-los: eles evocam nossas melhores lembranças."
( Texto de Liane Alves in Desapego na raça - Revista Vida Simples- fevereiro de 2011)

                _ Assino Vida Simples há anos e sempre coloco aqui reflexões em cima das minhas leituras.
                Essa reportagem me pegou: começo de ano,sonhos anotados,boas intenções fresquinhas.E uma era parente do desapego: parar de comprar coisas das quais não preciso.Resolvi colocar em prática a proposta do texto: jogar fora ou doar 50 coisas ,mas não em duas semanas - impossível!
               Comecei bem e empaquei na sétima!Acho que vou gastar todo o ano para terminar essa lista e esse gesto de desapego.Mas não vou desistir! Há 3 anos me mudei de cidade e dez sacos de 100 litros foram doados,por mim, às instituições da minha ex-cidade.Me senti  livre,leve,solta.Vale a pena tentar de novo!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

7 - Coleção sui generis


 Coleção sui generis

       Toda manhã o netinho de quase 4 anos atravessa a casa e vai acordá-la:
       - Acorda,vovó.Já está de dia!
       - Bom dia,netinho.Você dormiu bem?
       -Dormi,sim.Levanta,vovó.
       - Vou me levantar já,já. Espere eu fazer minha ginástica.
       O netinho a observa dar pedaladas no ar.
       Às vezes ele não espera e diz:
       - Vovó,te espero lá na sala.
       Mas quando fica,descobertas acontecem:
       - Vovó,deixa eu ver sua coleção de remédios...ela é maravilhosa!
       - Vovó, posso partir seus comprimidos com aquela sua máquina verde?
       Ela abre as caixas, separa os remédios do dia,coloca o cortador de comprimidos nas mãos do netinho,ensinando como cortá-los.
       Pronto!Juntos saem e vão assistir desenhos na tv até a casa toda acordar .E a alegre rotina da avó e seus netinhos se reinicia.

       
      

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Descoberta


                "Eu penso renovar o homem 
                 usando borboletas."
              
                               Manoel de Barros

                 _ Descobri: agora sei por que  tenho asas.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Peço licença


Em que esquina dobrei errado?

Martha Medeiros

Aconteceu em Paris. Estava sozinha e tinha duas horas livres antes de chamar o táxi que me levaria ao aeroporto, de onde embarcaria de volta para o Brasil. Mala fechada, resolvi gastar esse par de horas caminhando até a Place des Voges, que era perto do hotel. Depois de chuvas torrenciais, fazia sol na minha última manhã na cidade, então Place des Voges, lá vou eu. E fui.

Sem um mapa à mão, tinha certeza de que acertaria o caminho, não era minha primeira vez na cidade. Mas por um desatino do meu senso de orientação, dobrei errado numa esquina. Em vez de ir para a esquerda, entrei à direita. Mais adiante, aí sim, virei à esquerda, mas não encontrei nenhuma referência do que desejava. Segui reto: estaria a Place des Voges logo em frente? Mais umas quadras, esquerda de novo. Gozado, era por aqui, eu pensava. Não que fosse um sacrifício se perder em Paris, mas eu parecia estar mais longe do hotel do que era conveniente. Mais caminhada, e então, várias quadras adiante, não foi a Place des Voges que surgiu, e sim a Place de la Republique. Eu tinha atravessado uns três bairros de Paris, mon Dieu.

Perguntei a um morador o caminho mais curto para voltar à rua onde ficava meu hotel, e ele me apontou um táxi. Teimosa, pensei: ainda tenho um tempinho, voltarei a pé. E assim foram minhas duas últimas horas em Paris, uma estabanada andando às pressas, saltando as poças da noite anterior, olhando aflita para o relógio em vez de flanar como a cidade pede. Cheguei bufando no hotel, peguei minha mala e, por causa da correria, esqueci no hall de entrada uma gravura linda que havia comprado e que planejava trazer em mãos no voo. Tudo por causa de uma esquina que dobrei errado.

Foram apenas duas horas inúteis e cansativas, e duas horas não é nada na vida de ninguém. Mas quanta gente perde a vida que almejou por ter virado numa esquina que não conduzia a lugar algum?

Alguns desacertos pelo caminho fazem a gente perder três anos da nossa juventude, fazem a gente perder uma oportunidade profissional, fazem a gente perder um amor, fazem a gente perder uma chance de evoluir. Por desorientação, vamos parar no lado oposto de onde nos aguardava uma área de conforto, onde encontraríamos pessoas afetivas e uma felicidade não de cinema, mas real. Por sair em desatino sem a humildade de pedir informação a quem conhece bem o trajeto ou de consultar um mapa, gastamos sola de sapato à toa e um tempo que ninguém tem para esbanjar. Se a vida fosse férias em Paris, perder-se poderia resultar apenas numa aventura, mesmo com o risco de o avião partir sem nós. Mas a vida não é férias em Paris, e aí um dia a gente se olha no espelho e enxerga um rosto envelhecido e amargurado, um rosto de quem não realizou o que desejava, não alcançou suas metas, perdeu o rumo: não consegue voltar para o início, para os seus amores, para as suas verdades, para o que deixou pra trás.
Não existe GPS que assegure se estamos no caminho certo. Só nos resta prestar mais atenção.
 
- Leio essa escritora gaúcha há mais de dez anos:poesias,romances,crônicas .Como milhões de brasileiros,sou  sua admiradora ferrenha.Hoje,vou lhe pedir licença para publicar aqui esse texto.Uma benvinda reflexão para o começo de um novo ano:desacertos existem e existirão sempre.Devemos ficar atentos e aprender com eles.E recomeçar,sempre.



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